segunda-feira, 30 de abril de 2018

Kobayashi Issa / O Haicaísta Feliz / José Lira * Antonio Cabral Filho - RJ

*O Haicaísta Feliz /  Kobayashi Issa*
José Lira 
Crossing Borders 2018
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Um doa mais queridos haicaístas do Japão, Kobayashi Issa teve uma vida marcada por infortúnios. Sua mãe o deixou órfão aos três anos; a madrasta o impediu durante vinte e cinco anos de apossar-se de uma modesta casa, único bem que o pai lhe deixara; casou-se aos cincoenta e três, idade que na sua época já correspondia à velhice; perdeu a mulher e quatro filhosainda crianças; casou-se outra vez; separou-se; voltou a casar; perdeu a casa num incêndio; e não chegou a ver nascer a última de suas filhas. Tinha tudo para ser um poeta amargurado, mas a irreverência e a ironia são as características mais marcantes de sua escrita, tornando-o diferente de todos os outros  grandes mestres do haicai, apesar de que os sentimentos de solidão e transitoriedade próprios desse tipo de poema também permeiam seus textos.
Muitos dos haicais de Issa, nos quais ele se mistura a moscas, pulgas, piolhos, lesmas e outros seres menores, são impregnados de uma cósmica e pungente correlação entre as fugazes preocupações humanas e a calma submissão dos animais aos designios da natureza. 
Esta não é, na verdade, matéria incomum nesse gênero poético que tem a mesma natureza como foco, mas ninguém como Issa tratou com tanta singeleza e descontração as questões existenciais subjacentes a toda obra literária.
Sem as consultas e os empréstimos feitos às traduções de Issa em outras línguas que não a nossa não me teria sido possível reunir aqui estas minhas "versões adaptadas". 
Registro com gratidão os nomes de R. H. Blyth ( Haiku ) e Jean Cholley  ( En Village de Miséreux ), fontes seguras de referências à vida e à obra do mestre. 
Esta brevíssima mostra dos mais de vinte mil haicais de Issa com certeza omitiu textos essenciais e incluiu outros que só se justificam por inevitáveis questões de aptidão tradutória e gosto pessoal.
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Observação à Parte:

José Lira é um mestre do haicai. Quem já o conhece sabe disso e quem ainda não tem essa felicidade, deve fazê-lo o mais rápido possível: trata-se de um sábio. O trabalho que ele vem realizando sobre haicai, baseado nos clássicos mais remotos, é de uma importância ímpar no gênero. Afinal, traduzir escritos produzidos numa língua quase desconhecida, fundada nos ideogramas orientais, não é pouca coisa. Além disso, do trabalho intelectual, conta ainda o esforço editorial: publicar e divulgar o material produzido. Esse é outro lado da epopeia, o ingrato, pois o mercado é estreito e excludente. E por dois aspectos: 1 - haicai. 2 - autor brasileiro. Caso fosse um oriental, ainda que não japonês, haveria "outra" via a ser trilhada... 
Nesse sentido, colocar-se ao lado, mesmo desprovido das armas convencionais, tem sido a forma de fazer coro com seu canto. E quem quiser engrossar a banda, seja bem vindo!

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Sei que sou assim: Desde o princípio até ao fim, só restos de mim.